Conhecida por sua grande representatividade na economia lençoense nas últimas décadas, a família Zillo, de origem italiana, iniciou sua história no Brasil de maneira bastante humilde, em 1896. A trajetória da família rumo a Lençóis Paulista tem início na província de Vicenza, região do Veneto, no norte da Itália. Era no pequeno vale de São Floriano, na comuna de Maróstica, que vivia o casal Giovani Zillo e Marina Zan Zillo. Trabalhadores de vida simples, Giovani e Marina residiam no pequeno pedaço de terra da família. Foi também na cidade de Maróstica que o casal viu nascer os filhos José, Antonia, Antonio Frederico, Girolamo e Benvenutto. A Família decide migrar para o Brasil e, durante a travessia, no meio do Oceano Atlântico, nasceu Fortunatto. Já no Brasil, a família ganhou novos integrantes, como Luiz Zillo, que nasceu em 1903, último integrante da primeira geração da família Zillo.
Comerciante ambulante, Giovani pouco trabalhava na terra. O sustento de sua família vinha, sobretudo no verão, da venda de chapéus confeccionados com a palha do trigo. “Na comuna de Maróstica existia uma fábrica. Mais ou menos nos três meses de verão meu pai corria às cidades do Veneto, como Treviso, Vicenza, Castelfranco e Vitorio Venito, onde vendia chapéus”, narra o imigrante Giuseppe Zillo, conhecido no Brasil como Comendador José Zillo, em sua autobiografia.
Amigo de Giovani desde então, Pedro Coneglian, membro italiano de uma não menos tradicional família lençoense, também residia na região da Maróstica. Companheiros de trabalho, Giovani e Pedro utilizavam uma carroça de quatro rodas e três grandes caixotes, que enchiam de palha e levavam à fábrica.
Produtos artesanais simples, os chapéus eram confeccionados pelas mulheres que usavam corno matéria-prima a palha fina do trigo. Produto, este, cultivado na terra negra da propriedade da própria família.
Assim, entre as dificuldades de um verão e outro, Giovani Zillo e Marina Zan resolveram, acompanhados dos filhos, partir para as terras brasileiras. Na época, já trocavam informações com outros italianos que haviam se arriscado na América. Ressabiados pelo forte calor brasileiro, assunto sempre comentado entre os imigrantes italianos, os Zillo embarcaram em 1896 com destino ao Brasil. Deixaram o porto de Gênova no vapor Fortunata Régia e 23 dias depois desembarcaram no porto de Santos.
No oceano, a família enfrentou as dificuldades de uma viagem precária. Após o desembarque no porto, os Zillo subiram a serra em um precário trem, ocupando um vagão estilo gaiola. Desta forma, um pouco assustados, os imigrantes chegaram na Hospedaria, em São Paulo. Era o início da importante história dos Zillo no Brasil.
Era a região de Araraquara que inicialmente aguardava a chegada dos imigrantes da família. Em um texto autobiográfico, o imigrante Giuseppe Zillo narra os primeiros relatos que, ainda na Itália, a família teve sobre as terras brasileiras. “Um amigo meu que esteve aqui no Brasil, em Araraquara, tendo ganho um pouco de dinheiro voltou para a Itália e dava conselhos a nós, que já tínhamos vontade de vir para o Brasil, de irmos diretamente para Araraquara”, escreveu o imigrante que desembarcou em Santos aos 13 anos de idade.
Um golpe do destino, no entanto, mudou, já na Hospedaria dos Imigrantes, em São Paulo, os caminhos que seriam percorridos pelos Zillo no Brasil. “Ali dormimos no chão e comemos arroz com feijão. Como nosso destino era Araraquara e já tínhamos lugar determinado para onde ir, nós podíamos sair da imigração e, na rua, meu pai ouviu dizer que naquela cidade estava dando febre amarela. Então resolvemos não ir mais para lá”, narra Giuseppe na autobiografia.
Foram, então, algumas amizades feitas no navio durante a travessia no oceano que influenciaram os novos destinos dos Zillo no Brasil. “Antes, ainda no vapor, havíamos conhecido algumas famílias que vinham para São Manuel, para a fazenda do Simões, em Rodrigues Alves. Aí meu pai deu um jeito na imigração e nossa mudança foi despachada para São Manuel”, escreveu o imigrante.
De trem, via Estrada de Ferro Sorocabana, os Zillo adentraram no sertão. Em São Manuel, se hospedaram por três dias em um hotel, até partirem de carro-de-boi para a fazenda da família Simões. Começava ali o estabelecimento da família na região, que, anos mais tarde, culminaria em Lençóis Paulista, no bairro Rocinha.
Logo após a chegada na região, os Zillo se fixaram na fazenda da família Simões, na região de Rodrigues Alves, município de São Manuel. Foi nesta época que Giovani Zillo, retomando o trabalho de vendedor ambulante que mantinha na Itália, adquiriu urna carroça e passou a fazer viagens entre São Manuel e Botucatu comercializando cereais.
O trabalho na lavoura de café, no entanto, não deixou de ser realizado pela família. Em 1900, a Estrada de Ferro da Sorocabana já não suportava as grandes cargas de café que eram transportadas. Os Zillo, então, passaram a transportar de carroça o produto entre São Manuel e Barra Bonita.
Com o crescimento dos filhos de Giovani, a família abriu um açougue na região de Rodrigues Alves, que passou a ser tocado por Giuseppe. O açougue funcionava apenas aos sábados, já que nos outros dias da semana a ocupação dos Zillo se dava no transporte de café.
Foi assim até 1906, quando a Estrada de Ferro Sorocabana reestruturou seus serviços e novamente passou a transportar o café. Com a diminuição do serviço de transporte com carroças, a família decidiu partir para a região de Lençóis Paulista.
Um pequeno engenho de aguardente na Rocinha, ponto de chegada dos Zillo em Lençóis Paulista, foi o início da tradição da família na fabricação e comercialização dos produtos da cana-de-açúcar. Em 1939, membros das famílias Zillo e Lorenzetti se tornaram sócios em uma fazenda no bairro Barreirinha, em Macatuba, onde estava instalado um engenho de fabricação de aguardente.
O engenho funcionou até 1945 como um dos maiores da região. Porém, a intenção da empresa era a fabricação de açúcar, o que aconteceu em 1946, quan¬do a já então Usina São José pôde colher e processar a sua primeira safra.
Posteriormente foi adquirida a Fazenda Barra Grande, de Benjamin Fayad, onde, em 1946, foi instalada a Usina Barra Grande, que passou a fabricar açúcar no ano de 1947.
Anos mais tarde os sócios iniciavam a produção do açúcar refinado de marca Azil, na Usina São José. Em 1952, as duas usinas também entraram na produção do álcool. Já no início da década de 1970, uma nova refinaria foi inaugurada e o açúcar refinado passou a levar o nome de Duçula.
Em 1964, foi adquirida pelo Grupo Zillo Lorenzetti a Usina Pouso Alegre, da família Foltran, no município de Macatuba.
A terceira usina do Grupo Zillo Lorenzetti foi adquirida em 1981, em Quatá. Desde então, a produção do grupo se consolidou no mercado nacional. Em 1995, as empresas entraram em um novo ramo de produção, fabricando leveduras para o consumo humano e alimento animal.
Além da importância na economia de Lençóis Paulista, a família Zillo também escreveu seu nome na história do Município por sua importância política. Importância, esta que está diretamente ligada ao descendente Paulo Zillo, filho do imigrante Giuseppe Zillo e de Angelina Lorenzetti Zillo. Nascido em Lençóis Paulista, em janeiro de 1919, Paulo Zillo trilhou uma longa carreira acadêmica antes de se embrenhar na política local.
Sua entrada na política se deu na década de 1960, quando foi eleito vereador, assumindo a presidência da Câmara Municipal. Em 1964, Paulo Zillo assumiu o cargo de chefe do Executivo, se mantendo na função por cinco anos. Sua gestão como prefeito ficou marcada pela instalação em Lençóis Paulista do Centro de Treinamento Rural da Massey Ferguson, a implantação do reforço energético e da nova subestação de energia e a construção de mais de 150 casas populares.
Fonte: * trecho do Livro: Grandes Famílias de Lençóis Paulista e Macatuba – Marcos Paulo da Silva – Conceição Giglioli Capanezi