O século 19 chegava ao seu final. Na Itália, a crise econômica deixava dolorosas marcas na população. A escassez de empregos que atingia o País mobilizava milhares de famílias na luta pela sobrevivência. Entre elas estava a família Lorenzetti. Era na pequena San Pietro di Felleto, província de Trevizo, no gelado norte italiano, que vivia o casal Giovanni Lorenzet e Lilliana Pasqua Lorenzet. Naturais do Município de Conegliano, Giovanni e Lilliana tiveram oito filhos: Maria Luigia, Luigi Vicenzo, Pietro Antonio, Rosa Marina, Gio-Batta, Vicenzo Emilio, Emilio Francesco e Giustina Lucia.
Agricultores de vida simples, Giovanni e Lilliana nem imaginavam que um de seus filhos tornaria, décadas mais tarde, o sobrenome Lorenzetti (a grafia mudou) tradicional do outro lado do Oceano Atlântico. É com Pietro Antonio que começa a trajetória de progresso da família na região de Lençóis Paulista. Nascido em 1856, também na cidade de Conegliano, Pietro Antonio, assim como seus irmãos, cresceu levando uma vida comum. Agricultor, ganhava a vida tomando conta de uma pequena propriedade rural.
Casado com Santa Bernardi, Pietro Antonio teve na Itália cinco filhos: Angela, Luiggi, Giovanni, Antonio e Giuseppina. As dificuldades eram muitas. Quanto mais se aproximava a virada do século, a vida se tornava mais complicada com a crise econômica. Para centenas de trabalhadores italianos, mais que um sonho, a oportunidade da imigração surgia como a única saída.
E Pietro Antonio não hesitou em também arriscar. Com a coragem e a esperança na bagagem, toda a família de Pietro Antonio embarcou no navio Asiderata, no dia seis de agosto de 1896, com destino ao Brasil.
A saída foi do Porto de Gênova, um dos principais pontos de partida dos imigrantes italianos. Foram 28 dias de viagem. Após o desembarque no Porto de Santos, a família pas sou pela Hospedaria dos Imigrantes, onde estiveram e’ de setembro de 1896. Na data, Pietro Antonio tinha do
e Santa Bernardi, sua esposa, 37. Angela, a filha mais velha contava 11 anos Os gêmeos Giovanni e Antonio tinham sete, Luiggi, cinco anos, e a caçula Giuseppina, tinha dois anos.
Encaminhados ao interior de São Paulo para o trabalho na lavoura, a família Lorenzetti encontrou na região de São Manuel seu primeiro destino. Na fazenda Boa Vista do Rio Claro, no então distrito de Pratânia, entre as jornadas de trabalho nos cafezais, Pietro Antonio Lorenzetti e Santa Bernardi Lorenzetti assistiram o crescimento da família. Foi também na fazenda que o casal teve sua última filha, Maria Lorenzetti.
Sete anos após a chegada na região de São Manila vítima de um problema intestinal, Pietro Antonio Lorenzetti faleceu. Os filhos continuaram trabalhando conw colonos nas lavouras de café. Aos poucos, vinham os primeiros lucros. E não tardou para os Lorenzetti adquirirem o primeiro pedaço de terra da família, onde continuaram cultivando café e lavouras de subsistência.
Angela Lorenzetti, filha mais velha de Pietro Antonio, conheceu o também imigrante italiano Giuseppe Zillo, com quem se casou em 1904 e se mudou para Lençóis. Giovanni, Antonio, Luiggi, Giuseppina e Maria cresceram e desenvolveram suas próprias famílias em São Manuel.
Giovanni conheceu a esposa, Albina Casini. Luiggi veio a se casar com Guilhermina di Osti. Maria, filha mais nova dos imigrantes Pietro Antonio e Santa Bernardi, conheceu o marido Olindo Gaffo. Já Antonio, casou-se com a prima Josephina Lorenzetti, também imigrante.
Nos primeiros anos do século 20, a abertura da fronteira agrícola no norte do Paraná aguçou o ideal de progresso dos irmãos Lorenzetti. Em 1923, toda a família, incluindo os parentes do ramo de Josephina Lorenzetti, se mudou para a região de Cambará, onde os irmãos compraram terras para plantar café.
A nova vida parecia prosperar cada vez mais no fértil norte paranaense. As dificuldades, porém, insistiam em perseguir os imigrantes. Em 1929, com a quebra da bolsa de valores de Nova York e a depressão que abalou a economia de todo o planeta, o café brasileiro foi desvalorizado, levando centenas de famílias à falência. Os efeitos da crise não passaram despercebidos pelos Lorenzetti. Com dívida de financiamento bancário, os irmãos tiveram de vender as fazendas.
Em 1931, os Lorenzetti decidem retomar ao interior de São Paulo. Desta vez, o destino foi Lençóis Paulista, onde passaram a morar na fazenda São Luiz, propriedade do cunhado Giuseppe Zillo, o Comendador José Zillo.
Com o passar dos anos, na década de 30, a família Lorenzetti se dividiu. Depois de viver algum tempo em Lençóis, Luiggi e seus familiares se transferiram para a região de Sorocaba. Antonio, com os filhos já crescidos, também deixou a cidade. Acompanhado da esposa e das filhas Ida, Olinda e Marina, o imigrante mudou-se para a fazenda Santa Marina, em Vera Cruz. Seus filhos José Antonio Lorenzetti, Antonio Lorenzetti Filho e Juliano Lorenzetti, no entanto, continuaram em Lençóis Paulista.
A vida dos irmãos Lorenzetti em Lençóis Paulista continuava simples na década de 1930. José Antonio, Antonio Filho e Juliano moravam na fazenda São Luiz e trabalhavam na roça tirando o sustento de seus familiares. Com o passar dos anos, porém, a vida rural foi aos poucos deixada de lado.
Comercializando algodão, José Antonio partiu para a região de Marília. Em 1935, Antonio Lorenzetti Filho também deixou a fazenda para prestar serviços em escritórios e casas comerciais de Lençóis Paulista. Na mesma época, Juliano, o mais moço entre os três, arrendava terras na região do Rio Claro para o cultivo de algodão.
Foi em 1939 que se deu início à primeira sociedade entre as famílias Zillo e Lorenzetti em Lençóis Paulista. Giuseppe Zillo e seu irmão Luiz Zillo tornaram-se sócios dos sobrinhos José, Juliano e Antonio Lorenzetti na compra da fazenda Patos, em Macatuba, que na época pertencia à família Coneglian. Na fazenda, mantinham um engenho de aguardente de cana. Com o aumento da produção, em 1945 os sócios decidiram ampliar o então pequeno engenho. Era a origem da tradicional Usina São José.
Um ano após a instalação da Usina São José, a sociedade Zillo-Lorenzetti colhia sua primeira safra de açúcar. Em 1946, uma outra sociedade uniu novamente as duas famílias. Desta vez, Giuseppe Zillo se associou aos descendentes do imigrante Giovanni Lorenzetti. Firmada a parceria, Giuseppe e os sobrinhos começaram a instalação da Usina Barra Grande, também a partir de um engenho de aguardente de cana.
A Usina Barra Grande entrou em operação em 1947, consolidando a sociedade Zillo-Lorenzetti. Dois anos mais tarde, os sócios iniciavam a produção de açúcar refinado na Usina São José. Em 1952, as duas usinas também entraram na produção de álcool. Já no início da década 1970, uma nova refinaria foi inaugurada e o açúcar refinado passou a levar o nome de Duçula.
A terceira usina do Grupo Zillo-Lorenzetti foi adquirida em 1981, em Quatá. Desde então, a produção do grupo se consolidou no mercado nacional. Em 1995, as empresas entraram em um novo ramo de produção, fabricando leveduras para o consumo humano e alimento animal.
Hoje, o Grupo Zillo-Lorenzetti representa um dos principais nomes empresariais brasileiros no setor sucroalcooleiro
Fonte: * trecho do Livro: Grandes Famílias de Lençóis Paulista e Macatuba – Marcos Paulo da Silva – Conceição Giglioli Capanezi